A dor constante no canto do olho, acompanhada de vermelhidão, secreção e inchaço, muitas vezes é subestimada pelos pacientes, sendo atribuída a alergias ou pequenas irritações oculares. No entanto, esses sinais podem indicar algo mais sério: a obstrução das vias lacrimais, um problema que não apenas compromete o conforto, mas também pode evoluir para infecções recorrentes. Conversamos com a oftalmologista Camilla Duarte, especialista em obstrução lacrimal, que nos explicou o caso de uma paciente atendida recentemente, ilustrando como a obstrução da via lacrimal pode impactar a saúde ocular e qual o caminho de tratamento com o

esvaziamento de Secreção do Saco Lacrimal

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De maneira simplificada, as vias lacrimais são responsáveis por drenar as lágrimas dos olhos para o nariz, um processo essencial não só para o conforto ocular, mas também para evitar acúmulo de secreção e infecções.

Quando essa drenagem é interrompida — o que pode ocorrer em qualquer ponto do trajeto, mas é mais comum na transição entre o saco lacrimal e o ducto nasolacrimal — o resultado é o acúmulo de lágrimas e secreções, favorecendo inflamações e, em casos mais avançados, infecções crônicas.

"Essa paciente já chegou ao consultório com o diagnóstico confirmado por uma dacriocistografia, um exame de imagem que permite visualizar a anatomia e o funcionamento das vias lacrimais. No caso dela, havia uma obstrução completa da via lacrimal baixa", relata a médica.

Apesar de muitos associarem problemas nas vias lacrimais apenas ao lacrimejamento excessivo — condição conhecida como epífora —, os sinais vão além. Segundo Camilla Duarte, é comum que o paciente apresente:

- Inchaço e endurecimento na região próxima ao nariz, no canto interno do olho;

- Vermelhidão e irritação ocular;

- Aumento da secreção, muitas vezes espessa e purulenta;

- Sensação de pressão ou desconforto constante na região do saco lacrimal.

sintomas da obstrucao lacrimal

Esses sintomas não apenas causam desconforto, como também prejudicam a qualidade de vida e podem levar a quadros infecciosos mais graves.

"No caso da minha paciente, já observávamos sinais de um processo infeccioso crônico no saco lacrimal. A secreção estava espessa, amarelada e purulenta, indicando a presença de infecção ativa", explica a especialista.

Para lidar com o quadro de infecção, a oftalmologista realizou uma expressão do saco lacrimal, procedimento que consiste em pressionar a região do canto do olho para remover o acúmulo de secreção e aliviar o desconforto imediato.

"Durante o procedimento, conseguimos ver claramente a saída da secreção purulenta pelo ponto lacrimal superior. É algo que proporciona alívio da tensão, reduz o endurecimento da área e prepara o olho para responder melhor ao tratamento com antibióticos", destaca Camilla.

Esse esvaziamento de Secreção do Saco Lacrimal, no entanto, não é considerado a solução definitiva. O esvaziamento de Secreção do Saco Lacrimal visa, sobretudo, reduzir o quadro infeccioso e o desconforto do paciente, ganhando tempo para a programação cirúrgica necessária.

Apesar do alívio temporário proporcionado pela expressão e do uso de antibióticos, a obstrução das vias lacrimais geralmente exige intervenção cirúrgica. O procedimento mais comum é a dacriocistorrinostomia, técnica que cria uma nova comunicação entre o saco lacrimal e a cavidade nasal, restabelecendo o fluxo das lágrimas.

"O ideal é que o paciente chegue para a cirurgia em melhores condições, sem infecção ativa e com o mínimo de secreção possível. Por isso, o tratamento inicial é tão importante", ressalta a oftalmologista.

A cirurgia pode ser realizada por via externa, com pequena incisão na pele próxima ao nariz, ou por via endoscópica, com acesso interno pelo nariz, minimizando cicatrizes visíveis.

As causas variam conforme a idade e o histórico do paciente. Em adultos, os motivos mais comuns incluem:

- Inflamações crônicas da via lacrimal;

- Traumas ou fraturas na região do nariz;

- Cirurgias anteriores no nariz ou seios da face;

- Processos infecciosos de repetição;

- Raramente, presença de tumores ou lesões compressivas.

Já em crianças, a obstrução pode ser congênita, ou seja, estar presente desde o nascimento, sendo frequentemente detectada nos primeiros meses de vida pelo lacrimejamento constante.

Oftalmologista alerta que sintomas como lacrimejamento persistente, secreção ocular fora do habitual, inchaço ou vermelhidão no canto dos olhos devem ser investigados. "Muitas vezes o paciente tenta tratar com colírios por conta própria ou acredita que é algo simples, mas atrasar o diagnóstico pode agravar o quadro e tornar o tratamento mais complexo", pontua.

Em casos de infecção associada, o risco de formação de abscessos ou disseminação da infecção para estruturas próximas, como os seios da face, aumenta, exigindo atenção médica imediata.

Com o diagnóstico correto e o tratamento adequado, as perspectivas são bastante positivas. A cirurgia de correção, quando indicada, apresenta altas taxas de sucesso, proporcionando alívio dos sintomas, prevenção de infecções recorrentes e recuperação da função lacrimal.

Além disso, o acompanhamento com o oftalmologista garante que eventuais complicações sejam detectadas precocemente, minimizando riscos à saúde ocular.

Problemas nas vias lacrimais, embora menos comentados em comparação a outras doenças oculares, podem gerar impacto significativo na rotina e na saúde dos olhos. "O mais importante é que o paciente fique atento aos sinais e busque avaliação especializada. Quanto antes o diagnóstico, melhor o prognóstico", finaliza Camilla Duarte.

A conscientização sobre o tema também evita automedicação inadequada e desmistifica o tratamento, que pode envolver desde procedimentos simples no consultório até intervenções cirúrgicas de alta eficácia.

Saúde ocular vai além de enxergar bem — cuidar dos olhos significa também preservar o funcionamento adequado de todas as estruturas envolvidas no equilíbrio e conforto visual.